Maria Ezequiel
 

O  PASSAROCO

 
 

Foi nas vésperas do Natal

Que o passaroco fugiu.

Deixou o dono espantado

Pelo logro em que caiu.

 

"Já reparaste, mulher,

Ele meteu-me em sarilhos,

Agora que vamos passar

O Natal junto dos filhos!"

 

Do Natal ao Ano Bom

Muito o dono matutou

Mas nem o sono sofreu

Nem o apetite esmoreceu!

 

Ficando a gaiola aberta,

O dito se banqueteou

Com boa ração e água

Que ninguém de lá tirou!

 

Comeu, bebeu regalado

Nessa quadra do Natal

E o dono quando voltou

Em nada levou a mal.

 

Foi, cauteloso, espreitando

A hora em que ele viria

Encher o papo à gaiola

Onde a armadilha existia...

 

Era puxar o cordel...

A porta se fecharia.

Mas vários dias passaram

E mais nada acontecia...

  

O dono desesperado,

Mesmo sem ver passaroco,

Puxa cordel, fecha porta

Ouviu um  "piu! piu!" de troco!

 

"Queres ver que já apanhei

Aquele grande safado?!

Estava mesmo lá dentro

No alto, empoleirado!...

 

Três dias a enganar-me!..."

Sim! Com comida e bebida...

Gratuita, a pensão completa

Dava direito a dormida!!!



Natal  2001,  Carvalheira

 

Maria Ezequiel

 

   
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